quinta-feira, 30 de setembro de 2010

A Igreja da Penna


Nossa Senhora da Penna – Padroeira dos Intelectuais, das Artes e Ciências e da Imprensa



Por que Penna?

É a representação de Nossa Senhora, porém, num penhasco, por isso Penna (oriunda de Penha, segundo grafia antiga).

Histórico da Igreja
     A Igreja de Nossa Senhora da Penna é envolta em mistérios...Existem duas formas de “se contar”a fundação da igreja, uma pautada na história e outra pautada numa lenda. Vamos contar primeiro a estória pautada na lenda, depois vamos à história...

     Um senhor de engenho, cruel com os seus escravos, mandou um escravo ir logo cedo levar o rebanho ao pasto. O escravo então fez o que o seu senhor mandou, mas, quando foi recolher o gado sentiu falta de uma vaca.
     Amedrontado, por saber que se voltasse à fazenda sem a vaca que faltava, sofreria severos castigos do feitor e do seu senhor. Esses castigos eram o tronco, a palmatória, o vergalho...
     Com muito medo, o escravo atirou-se por terra, se pôs de joelhos e começou a rezar para Nossa Senhora pedindo para encontrar o gado que faltava, pois, se voltasse à fazenda sem a vaca, sofreria muitos castigos...
     Depois de tanto rezar e chorar, o escravo se distraiu e olhou para o alto de uma montanha que existia na fazenda e, embaixo de uma grande árvore se encontrava uma senhora muito bonita e bem vestida, com um belo vestido azul e branco. A senhora acenou ao escravo com a mão pedindo que ele subisse para falar com ela.
     O escravo não acreditava no que via e por conhecer aquelas terras sabia que não existia a possibilidade de alguém subir à montanha sem se sujar, machucar e sem rasgar as suas vestes. Amedrontado, por pensar ser um fantasma, o escravo não subiu. Entretanto, num momento, encheu-se de coragem e subiu à montanha, mas mesmo com essa coragem, sentia muito medo, subindo a passos lentos.
     Quando enfim chegou à montanha, a bela senhora sumiu do local e aonde estava, embaixo da grande árvore, se encontrava a vaca que o escravo havia perdido. O senhor viu tudo de onde estava e, impressionado com o que vira e arrependido das maldades que cometia para com os seus escravos, mandou erigir no local do milagre uma capela, sob a invocação de Nossa Senhora da Penna.
     Depois do milagre, o senhor que era bastante cruel com os seus escravos, passou a tratá-los de maneira melhor, mais humana. Após esse milagre e após a construção da capela, Nossa Senhora da Penna apareceu mais três vezes embaixo da árvore. Depois, Nossa Senhora nunca mais apareceu para os freqüentadores da capela.

Fonte: Relato recolhido de antigos moradores de Jacarepaguá em 1946 por Amadeu Beaurepaire Rohan, para a realização de seu estudo sobre a Irmandade de Nossa Senhora da Penna.


A História da fundação
     Antes de ser criada a Freguesia de Jacarepaguá, Jacarepaguá pertencia à Freguesia de Nossa Senhora da Apresentação de Irajá, criada por Provisão de 30/11/1644 e confirmada por Alvará Régio em 10/02/1647.
     Como Jacarepaguá a essa época possuía engenhos e pessoas que viviam desses engenhos, tornava-se difícil a condução do Santo Viático para atender aos enfermos. Diante dessa dificuldade, o Prelado Dr. Manoel de Souza e Almada criou a Paróquia de Jacarepaguá sob invocação de Nossa Senhora do Loreto e Santo Antônio.
     Para a construção da Paróquia, o Capitão Rodrigo da Veiga e sua esposa doaram um pedaço de suas terras ao Padre Manoel de Araújo. O local dessas terras era conhecido como Porta d’Água.

Em Memórias Históricas do Rio de Janeiro, de 1808, assim pode-se encontrar a descrição sobre a ereção da Ermida de Nossa Senhora da Penna:
     A Igreja da Penna, situada em um penedo elevado, segundo consta no Santuário Mariano, Tomo 10 Livro 3º, Título 41, foi edificada pelo Padre Manoel de Araujo, clérigo autorizado, ou por um ermitão, devotíssimo de Nossa Senhora e de vida muito exemplar, mas cujo nome se ignora.
     Junto ao lugar de Jacarepaguá, se vê um monte muito alevantado e na área que se faz seu cume, se vê o Santuário de Nossa Senhora da Penna. É esta santa de grande devoção, aonde se vêem todos os dias muitas romagens. E o sítio em si sem embargo de ser muito eminente e elevado; está convidado, para ser buscado, porque é muito alegre e vistoso, pelos muitos horizontes, que mostra de mar e terra.
     Nesta Casa se vê colocada a Soberana Rainha dos Anjos, é esta Virgem muito pequena e é de vestidos e está colocada no Altar-Mór de sua Ermida. Tem um ermitão muito devoto que tem cuidado de seu altar e do seu ornato.
     Obra esta senhora muitos milagres e maravilhas e assim é freqüentada a sua Casa de romagens não só dos moradores circunvizinhos, mas dos muitos distantes, e ainda dos do Rio de Janeiro, todos vão a impetrar da senhora o remédio de seus trabalhos e necessidades, e as paredes daquela Casa estão dando testemunho de suas maravilhas, nas memórias que se vêem perder, como são mortalhas, quadros e muitos outros sinais de cêra e outros desta qualidade estão pregoando o poder da Rainha dos Anjos.
     Fundou esta Casa naquele alegre e notável sítio o Padre Manoel Araújo, que foi o mesmo que fundou a Igreja de Nossa Senhora do Loreto no mesmo lugar de Jacarepaguá. Este devoto clérigo era devotíssimo da Mãe de Deus, e bem podia ser que de Lisboa levasse esta imagem para o Rio de Janeiro, e que na viagem lhe fizesse alguns milagres por cuja causa lhe dedicaria aquele Santuário naquele tão notável sítio ao qual a Senhora enobrece com muitas e notáveis maravilhas.
     Deste virtuoso clérigo se diz que era grande letrado e que fora Vigário Geral no Bispado do Rio de Janeiro e bem se pode crer, que a Senhora lhe fizesse muitos favores, pois tanto A desejava servir que lhe dedicou duas Casas. Não nos constam o dia em que lhe faz a sua festa que lhe farão os seus devotos, e terá mordomos que A servirão com fervorosa devoção. Da Senhora da Penna faz menção o Reverendíssimo Padre Frei Miguel de São Francisco no ano de 1723.

A visita de 1737 – Visitador Padre Gaspar Gonçalves de Araújo
     Foi uma das desmembradas de Irajá, não consta verdadeiramente o ano, mas, por um assentamento antigo feito em um livro particular de Memória de Paulo Ferreira de Souza, avô do reverendo Vigário Atual, Padre Antônio de Souza Moreira, consta que no ano de 1664 se erigiu a Igreja Matriz na fazenda do Padre Manoel de Araújo, e que na benção da dita Igreja assistiram o Prelado Manoel de Souza e Almada, o Governador Pedro de Melo e o Provedor Diogo Corrêa. Não constando por esta memória o ano em que foi desmembrada, e principiou paroquiação privada em Jacarepaguá, sabe-se contudo pela memória escrita a fls. 1 do Livro de Batismo, que o Prelado Almada criara no dia 06/03/1661 a Freguesia, dedicada a Nossa Senhora do Loreto e Santo Antônio. Em sítio pouco distante da primeira Igreja onde se descobre ainda vestígios de sua existência, levantaram os fregueses a que subsiste com paredes de pedra e cal, dando-lhe 87 palmos de comprimento, desde a parte principal até o arco, e de 41 de largura, e Dalí até o fundo da Capela-Mór e 59 de comprimento em 32 de largo.

* Em nenhum momento este texto teve a intenção de promover a religião católica, e sim esclarecer a fundação de um dos patrimônios materiais existentes na região de Jacarepaguá.

Fonte: As sesmarias de Jacarepaguá e Memórias Históricas do Rio de Janeiro.

Heluana Macêdo
Pesquisadora IHJa








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